De tempos em tempos algumas variedades de uva viram moda. Foi assim com o Tannat depois de um programa de televisão, foi assim com a Pinot Noir depois de um filme de Hollywood. Agora, a Primitivo italiana rouba a cena com suas garrafas imponentes, vinho adocicado e, na minha modesta opinião, todos de baixa qualidade e muito parecidos entre si, além dos preços superfaturados que encontram um consumidor pouco experimentado que ainda acha que só porque é caro é bom.
Deixando a crítica de lado, hoje o papo é sobre a uva Marselan (ou Marseillan – nome da cidade francesa onde foi criada). Criada em laboratório pelo instituto de pesquisa agrícola francês (INRA) no ano de 1961, a Marselan é o resultado do cruzamento das cepas Cabernet Sauvignon e Grenache, onde a intenção dos pesquisadores era obter estrutura, cor e elegância do Cabernet Sauvignon, e a robustez e tolerância ao calor da Grenache. Os primeiros resultados apresentaram uma uva de baixíssima produtividade, o que fez com que na época a Marselan fosse deixada de lado pelos produtores regionais, pois muitos ainda tinham a questão de alta produtividade dos vinhedos como prioridade. Muitos a utilizaram por anos apenas em pequenas porções em vinhos de corte, até que em 2002 surgiu o primeiro vinho 100% Marselan do mercado, o francês Domaine Devereux. De lá pra cá, a Marselan começou a ser exportada para diferentes países, e vem ganhando espaço na California, Brasil e até na China, onde o Chateau Lafite Rotschild implantou vinhedos de Marselan mirando o mercado interno chinês – que consome vinhos adoidado e vem cada vez mais ganhado espaço e importância no mercado enológico mundial.
Falando em países produtores, a Marselan vem sendo muito cultivada no Brasil, e a cada safra que passa novos produtores lançam seus rótulos. Na minha opinião, a Marselan tem tudo para ser nossa uva emblemática, assim como é o Malbec para a Argentina e o Carmenére para o Chile. Do aspecto agronômico, a Marselan é muito interessante para os produtores nacionais, especialmente os da Serra Gaucha, por sua boa resistência a doenças fungicas, que aparecem ao menor sinal de umidade. Vinificada, a uva apresenta bebidas muito agradáveis e com grande potencial de guarda. Uma característica que sempre noto é o ótimo equilíbrio entre taninos e acidez, além do álcool sempre bem incorporado. Estas características fazem com que os vinhos sejam de fácil consumo tanto com um ano de garrafa quanto com 5 ou 6. O estágio em barris de carvalho deixa os vinhos de Marselan ainda mais interessantes, dando um aspecto de vinhos da Toscana – com estrutura, corpo mas muita elegância.
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