Queda da barrica? Vinícolas buscam alternativas ao carvalho na elaboração de vinhos

Queda da barrica? Vinícolas buscam alternativas ao carvalho na elaboração de vinhos

Na última edição do guia de vinhos Descorchados, um dos mais respeitados do mundo, dois vinhos argentinos conquistaram pela primeira vez em 26 anos de publicação os tão cobiçados 100 pontos. Os rótulos das icônicas vinícolas Catena Zapata e Zuccardi, não têm apenas a nacionalidade em comum, mas também uma característica bastante curiosa: ambos não passam por barricas de carvalho.

Os enólogos responsáveis pela criação dos vinhos explicam que, para expressar de maneira mais fiel o terroir, foi necessário evitar os aromas e sabores conferidos pela madeira das barricas e, em seu lugar, usar tanques de concreto.

Esse movimento não é isolado e está ganhando força globalmente. Alguns produtores têm utilizado alternativas como talhas, semelhantes às usadas na antiguidade romana, ou até ovos de concreto. Mesmo no Brasil, vinícolas têm experimentado esse tipo de processo, desafiando a tradição da madeira.

No Chile, país onde o uso de barris de carvalho se popularizou, também se observa uma tendência crescente a reduzir seu uso. “Trabalhamos para que o vinho não tenha sabor de chocolate. Se ele tiver, deve vir das uvas”, afirma Cristián Vallejo, enólogo da vinícola VIK.

A popularização do uso de barricas de carvalho está atrelada ao célebre crítico de vinhos Robert Parker, cujas preferências pessoais influenciaram enormemente a indústria. Vinhos com forte presença de madeira registravam vendas astronômicas, o que levou diversas vinícolas a adaptar suas produções à predileção de ­Parker.

Com o tempo, o gosto do público mudou. Até mesmo no Velho Mundo, uma tendência crescente aponta para o uso cada vez menor de barricas. João Maria Ramos, enólogo da renomada vinícola portuguesa João Portugal Ramos, responsável pela criação do aclamado Marquês de Borba, é um dos que abraçam essa mudança. “A cada ano, compro cada vez menos barricas”, afirma. Para produtores como Ramos, o vinho não é apenas um produto, mas um reflexo da terra, da história e da essência do homem que o cria.

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